11.7.09

outro dia era de tarde a mãe procurava na xícara de chá pássaros e reflexos desde ali a árvore. A tisana [a tisana é um chá só cheiro - de água quente em folha fresca] a tisana de alfazema a mãe bebia. Mais à noite o incêndio - mangueira em flor, plenilúnio. Eu bebo chá preto porque na água escura a gente vê a lua inteira. A mãe bebe tisana porque verde desmaiado feito o olho dela e na água clara a lua dissolvida na palma da mão. Cá entre cães, isto é sem literaturas.
O osso tão roído, eu digo, sem literatura: eu venho sem novos poemas. Porque o poema sempre-velho, carcomido, escavado. O nosso poema telúrico, torrão desfeito na boca grande do tempo. Acho mesmo muita graça em dizer assim co'a boca cheia 'o nosso poema telúrico'. Os dentes todos barro - como se por haver pedra - a boca toda lodo. Mas não tem problema que seja engraçado porque esse riso feito cinza não aceita meia-água de ironia - isto sem literaturas e com a graça de mil demônios: o meu riso feito cinza não aceita meia-aguinha de ironia. Para responder brancamente aos alegres convivas, estes cães tão não-centauros.
Quando eu digo para a alegria do conviva que meu tempo é pouco e ele não nunca não sabe que não é questão de morte prematura nem de nenhuma outra reviravolta estimulante do roteiro a coisa toda beira inchaço na língua e eu vou ter de explicar. Com mil diabos. Como explicar que é questão de lua no copo? Questão de proliferação de becos nas pontas dos dedos de imagens repetidas de ecos de epístolas de anis entre uma sílaba e um acento numa palavra violácea uma parte branca numa palavra aquela palavra perdida no inchaço no eco
quando uma coisa soa como mil rebentos marcando por sobre a pele garatujas de uma paisagem insuspeitada e pedregosa?
Tento explicar envio cartas quando me mandam as outras cartas.
Descanso entre as palmas das mãos a canseira do rosto, o suor junta os cílios, as pálpebras que noite lambeu. Se o meu cabelo tem cor de tiziu tem cor de anu - se eu cortar na nova será que ele avoa e me dissolve?