29.5.10

para onde?

SE nem só pele o mapa
     por quantas eras quantas léguas
     se estende o flanco sem asa desta noite?


     o lastro da prece
     pronunciado: estrela é ilha
     Entre que águas
                            este naufrágio?





* * *



   CARAVELA MORTA
             ABÓIA,
             ABÓIA:


CAVALO N'ÁGUA TEM TODO TOM












                   -quem é que encontra ele entre o coral?





* * *



E neste aboio a boca treme
                     exibe os ossos
                 - o chão deságua
rilham dentes, a boca treme
        deslastram-se os ossos
      em gotas negras, largas
                    -arlequinada-
                               este aboio

o chão deságua em si - em riso
    ( deslastrar-se dos dentes )
faz-se areia, a água passa
                 lava a fome,
                       fio dos dentes




* * *

16.3.10

para os vivazes, levíssimos convivas nossos dois pontos e um final

outra vez estender sobre a campa o lençol branco, a campa verde verde e cinza em volta, e cinza de roda, um riso de ontem, o brio de agora. cinza e verde e a campa brancamente aceita sobre si o orvalho e o tecido. a campa aceita o cinza, o verde. o branco, circunspecto?, o vento obliterou. o branco linho, meio-dia ido a sombra cresce sobre todo o verde e alça o cinza desde o mais íntimo assunto entre pedras e mesmo caracóis vazios (antes que eu enxaguásse enxaguásse os lençóis e escolhesse aquele um de uma única traça carcomido para quarar, sete dias, uma noite, quarar sob o meio dia, com afinco, com saúde, até ternura - quem diria? - quarar quieta quieta o meu lençol e meu silêncio e dispô-lo, branco e limpo e linho, dispô-lo sobre a campa, mansamente, mãos sorrindo. antes, quando em vez dum branco e isto, eram uns, certas cores confusas: turqueza-absurdo e um tom de cor vestida; hibisco de rubro puído - entre estes o branco assumia outros matizes e tudo tudo se coalhava de vaziozinhos: caracol rachado, miudim, folhinha seca, pena, alecrim e arrepiu. anu-branco, peixe-cachorro, corujinha que feinha que é você. e a folha do limão. então eu aprendi no dicionário: aziago, ázigo, ázimo: e fiz oração miúda, verso ralo desse ôco que eu cavei

21.2.10

será refúgio?

e falar, falar da língua, bicho vivo que a boca habita e da mesma maneira: o resíduo, a coisa escrita transformada e repetida de hábito e invenção. E da mesma maneira: a fronte curvada sobre a folha e o seu ser-em-branco: vivamente habitado de tanta morte - PAPEL ACEITA TUDO e é do resíduo habitar os cantos, e do ar tanto erguer quanto dissolver a voz. o quê de mais próprio aos cantos que a poeira, que a gente sem nem saber vai arando o semear sozinho pra colheita comum, a chuva prece de tudo.


o que vou arando no comum de cada tarde será vespas será entulhos? a chuva prece de tudo

15.12.09

também pode ter sol no nome o peixe

http://www.youtube.com/watch?v=9hO5CybDNVs&feature=related

10.11.09

para a camila e para quantos mais vivazes convivas ora pois

senhor se fosse eu peixe-lua
eu era feixe de fibra por fiar
se fosse, senhor, em vez deste aboio eu prateava de corpo todo senhor eu boiava eu era luzeiro
- nem fosse por todo sal senhor -
ia alinhavando sem arremate
sem arremate alto e mar : eu era o fundo do espelho [se o ar é vidro da lua a se mirar]
peixe-lua era eu a face dágua
fossem as plantas do senhor a me pisar

um brinquedo alegres convivas brinquemos

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o ipê despido
                 dos brancos - sorrindo ri
                                                     em


        recos de cigarras




        cada eco 
                    o
                   sol racha:
              de anu preto e ôcas cascas




                                    o ipê vestido







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