"Esta noite sonhei - não é literatura - esta noite sonhei que não estava a sonhar. E afirmo que os pesadelos, mesmo para os mais assombrados de nós, apenas são ausências de pesadelo. A girar no vazio, o nosso espírito não poderia fazer-se à ideia de nunca mais girar. E na família dos nossos pensamentos, dos nossos amores, dos nossos ódios, é perpétua a história daquele homem que comia os filhos numa época de fome, para lhes preservar um pai" rené crevel
o que se inflama pelo ódio-pavor de odes requentadas e demais sobras opulentasoh eu amo
o olho desse desavisado passante
espelho em estilhaço,
-discreto espirro de mim-
é alguma música diluída na noite
a diluir o escuro entre asas estúpidas
estúpidas pétalas estúpidos anúncios doce-estúpida premência essa urgente morte que me inflama
com graça e horror
e portanto
oh eu amo
o imperativo de atentar contra o frágil acordo
tessitura entre desejo e cordialidade
ah a piedade! PIEDADE!? Piedoso é o dolorido de meu calcanhar nu de divindade
que dói solitário de poeira e rachadura por saber que tudo que pode se resume burramente num
oh eu amo
que eu clamo eu clamo a boca transbordando doenças miseráveis pus ressequido dentes carcomidos de mordidas nervosamente infantis que me redimirão para além desse lirismo? floreio? redundância? de insistir
na cuidadosa rispidez delicada rispidez do alfinete
OH EU AMO
o doce alfinete pendendo do peito estilhaçado de René Crevel
que continua a berrar discretamente o peso do recado preso pelo alfinete
ENOJADO
morra com placidez tudo de frágil
as ruínas com passados de pássaros esquecidos dentro
graça e horror